segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Genebaldo Freire

Genebaldo Freire Dias é Doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília. Tem trabalhado e produzido, de forma muito profícua, na temática ambiental, especialmente no campo da Educação, firmando-se como uma referência nacional, sustentada por seu extenso currículo. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Católica de Brasília onde vem desenvolvendo um importante projeto, que é relatado neste livro como uma experiência institucional relevante. Exerceu vários cargos de direção em instituições relacionadas com esta problemática, tanto em âmbito local quanto nacional. É também consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) das Nações Unidas (ONU) e do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), além de contribuir à evolução do debate sobre as questões ambientais no âmbito de diversos órgãos nacionais e internacionais.

Inicialmente, o autor apresenta uma revisão crítica da história da Educação Ambiental (EA) no mundo e no País, a partir do registro e avaliação dos resultados de eventos marcantes, agregando comentários e análises pertinentes. Nesta narrativa histórica ressalta a Conferência de Tbilisi em 1977, que se destacou como marco decisivo no estabelecimento das bases conceituais da EA, identificada como atividade essencial à construção de novos modelos e propostas de desenvolvimento. Sob o ideário da EA seria desenvolvido um novo processo educacional em escala e perspectiva globais.

Nas suas reflexões sobre as questões ambientais e proposta de EA, o autor considera que as pressões do sistema financeiro internacional têm conduzido as demais nações a situações de insustentabilidade nos seus processos de desenvolvimento.

Mesmo reconhecendo avanços na Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99) e melhoria nos índices de qualidade de vida, apresenta críticas aos modelos de desenvolvimento que têm sido adotados pelo Brasil e pelos países industrializados, apontando as implicações negativas para as gerações futuras. Nesse contexto, discute as implicações do processo de globalização que tem ampliado o número de indivíduos e populações que passam a adotar os mesmos padrões de consumo, exercendo enormes pressões sobre os recursos finitos, alguns escassos, sem avaliar a capacidade natural de regeneração. O resultado é um estado generalizado de frustração e violência, característico de “espécies sob estresse ecossistêmico: todos são contra todos” Projeta-se uma cultura do “ter” em lugar do “ser”, levando a exaustão dos recursos naturais – “a maior parte da sociedade humana vive como se fosse a última geração”, inviabilizando qualquer possibilidade de desenvolvimento sustentável.

A humanidade enfrenta um grande desafio: “a perda do equilíbrio ambiental, acompanhada de erosão cultural, injustiça social e econômica e violência, como corolário da sua falta de percepção, do seu empobrecimento ético e espiritual, também fruto de um tipo de educação que“treina” as pessoas para serem consumidoras úteis, egocêntricas e ignorar as conseqüências ecológicas dos seus atos”

Poucos países cumprem os acordos internacionais e a EA ainda não logrou a internalização de valores sociais capazes de deter a degradação ambiental que o mundo vem experimentando com grande velocidade.

Apesar do fantástico desenvolvimento científico e tecnológico obtido no século passado, em todos os campos do conhecimento, a capacidade de previsão sobre os riscos e conseqüências ambientais ainda revela-se muito limitada.

O autor mostra também que a questão da EA apresenta muitos contraditórios e conflitos de interesse, além de ser um campo novo do conhecimento, que exige uma abordagem sistêmica ainda pouco praticada ou mesmo entendida no ambiente acadêmico, tampouco pelos governos, políticos, autoridades.

A partir de farta e lúcida fundamentação, aponta a necessidade de desenvolvimento de novos instrumentos metodológicos para contribuírem à superação das limitações dos enfoques e métodos reducionistas dominantes no meio acadêmico. Entretanto, há ainda muito que avançar na construção de um novo paradigma que possa gerar resultados confiáveis capazes de fundamentar decisões e produzir mudanças.

Embora reconhecendo que muitos passos já foram dados, propõe esforços, com foco na Educação Ambiental e na formação de grupos interdisciplinares de pesquisa, voltados à compreensão e internalização de uma nova ética de desenvolvimento, capaz de responder ao desafio da sustentabilidade da vida humana no planeta.

O autor contribui para o entendimento das questões ambientais com base na teoria da complexidade, no princípio da incerteza (indeterminismo) e no pensamento sistêmico, discutindo as relações de interdependência do processo de desenvolvimento sustentável, considerando o crescimento populacional, a dimensão econômica e as limitações de recursos naturais, na abordagem das questões sociais dos ecossistemas urbanos. Além disso, trata das ações antrópicas relacionando-as com as alterações ambientais globais e discute as bases da EA urbana.

Um relato sobre a experiência de EA e de co-gestão realizada no Parque Nacional de Brasília é apresentada e discutida, contendo não apenas denúncias mas também, principalmente, apontando possibilidades de solução das questões ambientais, mostrando a importância da internalização de valores pela comunidade, por meio da educação. Um outro estudo de caso apresentado é o Programa de Educação Ambiental da Universidade Católica de Brasília, executado pela Pró-Reitoria de Extensão desde 1999, com objetivos de: incorporara a dimensão ambiental em todas as atividades da Universidade; difundir práticas sustentáveis de desenvolvimento; construção de uma agenda-21 institucional; implantação de um sistema interno de gestão ambiental. Estes estudos são amostras exemplares do que pode ser feito.

Trata-se de uma obra de referência, um clássico, pela atualidade, profundidade e sistematização das informações apresentadas. Elaborada com base em fatos e marcos históricos relevantes, destina-se aos alunos e professores de todos os graus, bem como para todos os cidadãos afetados pelos problemas ambientais, trazendo propostas lúcidas de desenvolvimento de um processo de desenvolvimento sustentável e de melhoria da qualidade de vida de todos.

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